segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A dança das compulsões


O poeta Carlos Drummond de Andrade, no livro “Corpo”, publicou um pequeno poema chamado “Mudança”:

O que muda na mudança,
se tudo em volta é uma dança
no trajeto da esperança,
junto ao que nunca se alcança?




Permitindo-me o empréstimo do poema para pensarmos sobre as COMPULSÕES, podemos olhá-las como se fossem uma espécie de dança. O que isso quer dizer? Penso que as mais variadas compulsões, desde os famosos gestos de verificar várias vezes se a porta está trancada, ou lavar as mãos sem parar, ou os abusos de drogas, comida ou sexo, todas estas atividades são um vai e vem, e volta, e rodopia para lá e para cá, que acabam não saindo do lugar. É como um pião.

Mas isso é assim em função de quê? O que o indivíduo ganha com isso? Para a reflexão, é necessário observarmos por vários ângulos: do ponto de vista externo, um observador vê o obsessivo se movimentar como um pião sem sair do lugar, nada muda com a mudança, ou com a dança, junto ao que nunca se alcança; mas do ponto de vista de dentro para fora, o ponto de vista do obsessivo, podemos pensar que toda essa dança de repetições, obrigações, pensamentos que invadem a mente da pessoa etc, são tentativas no trajeto da esperança de se elaborar conflitos ou traumas escondidos nos recônditos do inconsciente.

Esses indivíduos aprisionados nessas eternas repetições, enjaulados em si mesmos, estão tentando, através da repetição, dar uma nova chance a vida, para que desta vez algo novo aconteça. E o que é esse o novo? O novo é, pela primeira vez, o indivíduo encontrar alguém neste mundo que colabore com ele no sentido de ‘digerir’, de ‘desengastalhar’, algo que ficou indigesto no seu psiquismo por anos, às vezes décadas.

Os sintomas compulsivos são como pesadelos que tentam ser sonhos, mas não conseguem pois são interrompidos por algum evento assustador demais, indigesto à mente; eles são tentativas de se elaborar um material psíquico indigesto, mas que a pessoa, sozinha, não dá conta. Ela carece de outro ser humano que a ‘inspire’ para levar adiante esta tarefa. Este é o papel do psicanalista frente aos que sofrem de compulsões: colaborar com a transformação de seus ‘pesadelos’ em ‘sonhos’, para que assim eles possam tomar um destino útil, fértil e criativo na vida.

Paulo de Moraes Mendonça Ribeiro
Membro Efetivo da SBPRP e da SBPSP
Publicado em http://www.detaileventos.com.br/congresso_psicanalise_2009/jornal/jornal_0202_d.html

Palavra V!va de Gre!

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal o texto Gre...Adorei!

Anônimo disse...

Muito legal o texto Gre...Adorei!

Tulipa disse...

muito bom o Texto Gre, sentia falta de textos assim!!