terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sobre a solidão...

Existem tempos nas nossas vidas em que a solidão é a melhor companhia, pois é no sentir-se só que observamos mais a vida e as pessoas.
Tenho aprendido tanto com a tal(para uns temida) solidão. Percebi que preciso dela, que ela é tão vital, assim como ter companhia.
Quando estou só me deparo comigo e com um coração que só eu e Deus sabemos como está. É a hora do silencio. É a hora do sagrado. É a hora do turbilhão!
Aprendi com a solidão a me confrontar, a tentar ser melhor, a gostar da minha companhia. Foi na minha solidão que passei a observar os detalhes da vida, de uma roupa, de um ponto de crochet. Foi com a solidão que aprendi a observar minuciosamente as pessoas e percebi que todos, independentemente das diferenças, anseiam pelas mesmas coisas. Aprendi com as gestantes que podemos amar profundamente uma pessoa sem sequer saber como é o seu rosto, seus olhos, seu jeito.
Aprendi com os idosos que a alegria, a coragem e a força, são fundamentais para seguir em frente na vida.
Já as crianças, ensinaram-me uma nova linguagem, a linguagem do afeto. Com elas aprendi a falar mais com as mãos dando um abraço, aprendi a dizer: Eu te amo, sem muitas reservas e rodeios, apenas com a verdade dos olhos e do coração.
Foi na minha solidão que aprendi que os amigos, são para a vida toda, que a distancia não diminui nossas conversas recheadas de intimidade e ternura.
Foi na solidão que percebi o quanto é precioso escutar a voz de quem se ama quer seja no telefone ou no skipe.
Foi na solidão que descobri que o amor vive para sempre, a distancia não mata-o, não afugenta-o, nem sequer o esfria.
Foi com a solidão que puder buscar Àquele que dá sentido ao nosso caminho. Foi na minha solidão com Ele que pude me sentir profundamente amada e assim me sentir em paz com o mundo e comigo.
Foi na minha solidão que contemplei o Amor. E foi nessa minha incompletude que me percebi, foi na solidão profunda que me achei. E é na minha solidão com Ele , que sempre me encontro inteira para amar....

Silvia


PS* Meninas, bom feriadão de carnaval...Hoje ainda é terça, mas já estou me antecipando, pois não irei passar mais essa semana por aqui no blog...Cuidem-se!!Para as que vão viajar aproveitem, descassem e recarreguem as baterias porque teremos um ano recheado de muito trabalho e de muitas surpresas!!!!
Um bjão pra vcs...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A dança das compulsões


O poeta Carlos Drummond de Andrade, no livro “Corpo”, publicou um pequeno poema chamado “Mudança”:

O que muda na mudança,
se tudo em volta é uma dança
no trajeto da esperança,
junto ao que nunca se alcança?




Permitindo-me o empréstimo do poema para pensarmos sobre as COMPULSÕES, podemos olhá-las como se fossem uma espécie de dança. O que isso quer dizer? Penso que as mais variadas compulsões, desde os famosos gestos de verificar várias vezes se a porta está trancada, ou lavar as mãos sem parar, ou os abusos de drogas, comida ou sexo, todas estas atividades são um vai e vem, e volta, e rodopia para lá e para cá, que acabam não saindo do lugar. É como um pião.

Mas isso é assim em função de quê? O que o indivíduo ganha com isso? Para a reflexão, é necessário observarmos por vários ângulos: do ponto de vista externo, um observador vê o obsessivo se movimentar como um pião sem sair do lugar, nada muda com a mudança, ou com a dança, junto ao que nunca se alcança; mas do ponto de vista de dentro para fora, o ponto de vista do obsessivo, podemos pensar que toda essa dança de repetições, obrigações, pensamentos que invadem a mente da pessoa etc, são tentativas no trajeto da esperança de se elaborar conflitos ou traumas escondidos nos recônditos do inconsciente.

Esses indivíduos aprisionados nessas eternas repetições, enjaulados em si mesmos, estão tentando, através da repetição, dar uma nova chance a vida, para que desta vez algo novo aconteça. E o que é esse o novo? O novo é, pela primeira vez, o indivíduo encontrar alguém neste mundo que colabore com ele no sentido de ‘digerir’, de ‘desengastalhar’, algo que ficou indigesto no seu psiquismo por anos, às vezes décadas.

Os sintomas compulsivos são como pesadelos que tentam ser sonhos, mas não conseguem pois são interrompidos por algum evento assustador demais, indigesto à mente; eles são tentativas de se elaborar um material psíquico indigesto, mas que a pessoa, sozinha, não dá conta. Ela carece de outro ser humano que a ‘inspire’ para levar adiante esta tarefa. Este é o papel do psicanalista frente aos que sofrem de compulsões: colaborar com a transformação de seus ‘pesadelos’ em ‘sonhos’, para que assim eles possam tomar um destino útil, fértil e criativo na vida.

Paulo de Moraes Mendonça Ribeiro
Membro Efetivo da SBPRP e da SBPSP
Publicado em http://www.detaileventos.com.br/congresso_psicanalise_2009/jornal/jornal_0202_d.html

Palavra V!va de Gre!