sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O tempo e as jabuticabas

Adorei esse texto do Rubem Alves e por isso resolvi colocá-lo aqui. Hoje eu estava pensando: Como as experiências nos fazem olhar com outros olhos para a vida, para as circunstancias e para as pessoas. Uma amiga me disse que ela ouviu de um pastor uma comparação que diz o seguinte: Que uma pessoa experiente assemelha-se a um cão que late sentando. E uma pessoa menos experiente, assemelha-se a um cão que late para todos e corre por todos os lados, saltando e dando piruetas...Achei engraçada a comparação!!!
Esse cão que late sentado, sabe que em muitas situações não vale mais a pena se irritar, se afobar, e a espera é sua sábia decisão. A experiência traz a serenidade! O cão que late sentando sabe que não adianta querer salvar o mundo, pois não importa o quanto ele se importe com uma pessoa ou circunstancia, algumas pessoas simplesmente não se importam nem com ele e nem muito menos com os outros que mais precisam de ajuda. A experiência nos ajuda a colocar limites nas situações. A experiência nos abre os olhos para a importância da sabedoria.
Experiência não é, e nunca foi sinonimo de resignação e sim, a experiência nos possibilita a pensar e a lutar pelo que realmente vale a pena...Pelo essencial sem fechar os olhos para o justo e para o belo...


O tempo e as jabuticabas*

*Rubem Alves

'Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para
frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma
bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo
que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles
admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter
a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um
fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos,
normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da
idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões
de'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de
secretário-geral do coral.*

*Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem
conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha
alma tem pressa...*

*Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito
humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se
considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a
dignidade dos marginalizados, e deseja tão-somente andar ao lado do que é
justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor
absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.'

O essencial faz a vida valer a pena.*


Silvia

Um comentário:

Anônimo disse...

"O essencial faz a vida valer a pena", levar ou não o sorvete não é a questão, o sentimento que fica em mim é o essencial, e que ele possa ser leve como a vida em luz, que possa ser suave como sorriso de criança, mimada ou não, mas que está em aprendizado constante, assim como nós...aprendendo a sentir o amor nas entrelinhas, mesmo quando não nos mostram sorrisos...a essência está nas sutilezas de transformar o rancor que nos tacam em pétalas perfumadas

Grande Abraco
Obrigada pelo texto tão belo!
Que sua viagem seja cheia de pétalas! ;)