Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta muito para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema.)
Carlos Drummond de Andrade
Palavra V!va de MMM...
2 comentários:
O poema, a escrita...Coisas pequenas que dizem tanto...Escrever é um desepertar do ser..."O poema é uma mascara mais real que a propria face..." Quem escreve sabe o risco que corre, risco de mexer no que está nas profundezas do ser...
bjs
Ahhh Amei o novo visual do blog....Pena que o tempo tá curto para escrevermoss...É uma grande pena...Mas em breve estaremos na ativa novamente...
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